6.2.22

Partidas e Chegadas || Trish Doller


Recebi esse livro da Faro no fim do ano passado e só não li ele antes por causa da temática. Ele é um livro que fala sobre superar a perda de alguém, então eu não me senti bem lendo nas fastas de fim de ano e li por esses dias. Partidas e Chegadas é narrado em primeira pessoa pela Anna, que perdeu o namorado vitima de suicídio. A primeira pagina do livro é a carta de despedida dele, então não é spoiler. Os dois estavam planejando uma viagem de barco e quando o livro começa a Anna decide fazer essa viagem sozinha, um ano após a morte de Ben, mesmo não tendo muito conhecimento ou preparo sobre velejar. Era uma coisa mais do Ben, que ela embarcou por causa dele. No meio da viagem, ela acaba percebendo que não pode fazer isso sozinha e contrata Keane para ajudá-la.

Sobre a Anna a gente precisa entender o seguinte, ela está destruída emocionalmente e não sabe como superar a perda de Ben. Só que a questão do suicídio aqui torna tudo mais complexo, porque ela se culpa por não ter conseguido ajudá-lo de alguma forma. É aquela questão de que para quem vai a morte é o fim, mas para quem fica é só o começo. O Ben tinha depressão, tomava medicamentos e a Anna estava ao seu lado, só que alguns dias ele não conseguia lidar com a doença, não saia da cama... Quem convive com uma pessoa com depressão sabe como é difícil e olha que o livro nem aprofunda tanto nisso, mas essas partes são bem doloridas de ler. Já imaginando algo assim, não quis ler no fim do ano.

O eterno não saber está alojado em meu coração como uma pedra, uma dor chata e constante, que transborda em momentos como este, quando imagino como teria sido nosso futuro.


A viagem de barco é meio que uma passagem para a Anna. Sabe o mito do Caronte? O barqueiro que atravessa as almas para o Hades? Eu meio que fiz essa alusão com a Anna só que ao contrário. Ela usa a viagem como uma forma de superar a perda do namorado, de começar a pensar nele sem sentir tanta dor, de ter apenas as boas lembranças. E nisso a gente tem o Keane. Esse personagem entra, num primeiro momento, como uma opção de romance para Anna. Ele é bonito, divertido e estável, uma coisa que o Ben não era. Ela começa a comparar os dois, só que depois percebe que é uma comparação injusta, já que o Ben não está mais aqui. Aí que ela passa a olhar com mais atenção para o Keane e verdadeiramente aceitá-lo como com uma opção de relacionamento.

Um grande detalhe sobre o Keane e que faz esse personagem ter a sua própria perda para lidar, é que ele é deficiente físico. O Keane não tem uma parte da perna e agora enfrenta dificuldades em voltar a trabalhar velejando. Ele trabalhava na tripulação de barcos antes de perder a perna e gostaria de fazer isso depois, só que ele não consegue mais emprego. Acham que por causa da deficiência ele não é capaz. A Anna aposta que ele dá conta e ele realmente dá. A deficiência não define o que ele pode fazer ou não. Ele ensina o que ela não sabe e se vira muito bem no mar. Depois de tantos nãos ele vai questionar se não pode fazer outra coisa, se não quer fazer outra coisa. Acho que é importante para ele ter opções; sim, ele ainda é bom velejando, mas se quiser fazer outra coisa está tudo bem.

A leitura de Partidas e Chegadas é sobre curar as feridas, mas também sobre aprender a conviver com elas. Perder alguém nunca para de doer, só que você aprende a viver com essa dor e segue em frente. Vale dizer que o livro não é só esse aprendizado ou sobre a tristeza do casal, mas também um romance. A Anna e o Keane combinam, um dá força para o outro, tem momentos de descontração; a descrição das ilhas que eles passam é interessante. A autora soube nos ambientar na questão de velejar, então tem termos sobre isso, a questão de entrar nos lugares através do mar, o que fazer em determinadas situações. Gostei do livro, dos personagens, das reflexões e em como ele termina sem um desfecho mirabolante, mas como uma história real. Casou bem com a proposta realista desde o começo.

A diferença entre Keane e Ben, estou percebendo, é que Keane pertence a mim de uma forma que Ben nunca em pertenceu. Ben me amava, mas ele sempre teve uma saída estratégica. Keane é meu pelo tempo que eu o quiser. Posso sentir isso em tudo o que ele diz, em tudo o que ele faz.

Partidas e Chegadas - Algumas vezes você precisa se perder para encontrar o caminho 
Trish Doller 
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