Meus Irmãos || Disponível no Cinema Virtual
Crítica por Helen Nice
Imagem cedida pelo Cinema Virtual
Neste primeiro longa-metragem do cineasta Bertrand Guerry, o distúrbio denominado F.O.P. (Fibrodisplasia Ossificante Progressiva) também conhecida como a Síndrome do Homem de Pedra, doença genética rara que leva a imobilidade progressiva, é abordado com sensibilidade e discrição.
O diretor já havia feito um curta para divulgar a F.O.P. e decidiu retratá-la em um filme, que terá metade dos lucros destinado a F.O.P France. Para que a película fosse o mais próximo possível da realidade , Bertrand contatou portadores da síndrome e seus familiares.
A história começa com flashbacks, onde vamos ter uma breve ideia do que aconteceu, mas nada muito explícito.
O passado é alegre e cheio de energia. Dança, baladas regadas a álcool e a música que preenche a vida dos irmãos Rocco (David Arribe) e Eddy (Thomas Guerry). O auge da dupla foi nos anos 1990, quando eles tinham uma banda de indie rock.
Um salto no tempo e estamos 10 anos mais tarde. Agora eles vivem na paradisíaca Ile d'Yeu e participam dos festejos com a banda marcial local.
A fotografia é belíssima.
Rocco apresenta nítidos sinais da doença, seu filho Simon (Sasha Guerry) que logo fará 13 anos demonstra preocupação e maturidade além da idade.
Eddy perdeu a fala, inexplicavelmente.
Rocco, nome artístico de Pierre, está preso a uma cadeira de rodas e totalmente incapacitado. A vida de Eddy, nome artístico de Luc, e seu sobrinho querido gira em torno de cuidar do enfermo.
O corpo revela o que vai na alma, somatizando dores, culpas e ressentimentos.
Rocco é um homem amargurado, autoritário, de difícil convivência. Seu riso de desespero esconde toda sua raiva e frustração pela doença e pelo passado mal resolvido.
Seu filho questiona insistentemente sobre o paradeiro da mãe, que supostamente o deixou para viver apenas com o pai. Rocco evita dar detalhes e foge do assunto.
Imagem cedida pelo Cinema Virtual
Segredos não revelados marcam a relação pai- filho e colocam em xeque o amor entre eles. O garoto confia seus sentimentos à Juliette (Guillemine Boulte) filha do médico que cuida do pai. Há uma relação terna entre os dois.
O garoto Sasha Guerry entrega uma ótima atuação.
Eddy se expressa através da dança. As cenas são muito ricas e significativas.
Na vizinhança ainda vive o Sr. Adams (Chris Walder) que perdeu a visão e guarda lembranças de um amor do passado que gerou uma filha que ele nunca conheceu.
A chegada inesperada da irmã Lola (Sophie Davout), nome fictício de Valérie, trará o passado de volta, gerando uma catarse de emoções e enfrentamento das culpas e sofrimentos acumulados.
Inteligentemente, todas as peças do quebra cabeça irão se encaixar.
O roteiro, assinado também pela atriz Sophie Davout, tem uma força expressiva que vai além dos diálogos. Atenção ao que não é dito. Olhares, danças, silêncios, gestos, paisagens e a própria música que une esta família disfuncional e amorosa a sua maneira.
A trilha sonora é rica e tem papel importante na narrativa.
Uma bela história de relação fraterna, culpa, perdão, sobrevivência e o amor que a tudo perdoa.
Disponível no catálogo do Cinema Virtual. Confira.
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