5.5.21

Espacate

Espacate || Disponível dia 6 de maio no Petra Belas Artes À La Carte 
Crítica por Helen Nice 

Imagem: Reprodução

A máxima "as aparências enganam" é a premissa do primeiro longa-metragem dirigido pelo suíço Christian Johannes Kock, intitulado Spagat, em português Espacate, que é a denominação dada a um movimento ginástico que consiste em abrir as pernas paralelas ao solo em um ângulo de 90°. Um movimento que necessita treino e flexibilidade. A produção suíça de 2020, falado em russo suíço e alemão, conta em 110 min a história da professora Marina (Rachel Braunchweig), que tem com seu marido e filha uma vida comum e rotineira em um vilarejo rural da Suíça. 

A filha adolescente apresenta o comportamento típico de qualquer jovem da mesma idade, questionando a autoridade dos pais e provocando enfrentamentos. O marido, paciente e solícito, não percebe o turbilhão de emoções que o cerca, disfarçado em um relacionamento familiar normal. Marina, cansada da rotina, procura novas aventuras e leva uma vida dupla, tendo um caso amoroso com o pai de uma de suas alunas. Seu comportamento é dissimulado e sempre se esquiva com meias verdades. Seu amante Artem (Alexey Serebryakov) também não leva uma vida honesta. Ele e a filha Ulyanna (Marsha Demiri) vivem na Suíça há anos sem autorização de residência. A imigração ilegal é apresentada no filme como uma problemática real nestes países com uma sociedade aparentemente perfeita. 

Ulyanna frequenta a escola e os treinos de ginástica rítmica sem autorização do pai. Destaca-se no esporte, mas não pode competir, sob o risco de expor a situação ilegal da família. A jovem se diz órfã, mas mantém contato com a mãe que vive na Ucrânia. A rede de mentiras entrelaça as personagens, levando a convivência ao limite. Equilibrar as emoções e atitudes é tão difícil quanto as posturas e exercícios que Ulyanna pratica nos treinos. O mundo exterior de aparência pacata e equilibrado esconde sensações e sentimentos turbulentos que podem ruir a qualquer momento. O inverno oprime tanto quanto as cobranças sociais. A fotografia do filme transpassa toda melancolia e angústia em paisagens frias e rostos e feições contidas. Quando Ulyanna é acusada de roubo, seu pai se vê obrigado a se esconder, abandonando-a aos cuidados da professora. Com a filha de seu amante vivendo sob o mesmo teto que marido e filha, o frágil equilíbrio entre suas duas realidades é posto em cheque.

Espacate desnuda as relações de aparência, a rotina que desgasta a vida em família, o amor proibido, a aventura e principalmente, as muitas faces de uma sociedade moralista e preconceituosa. Um drama social bem atual, com boas atuações, destacando a jovem Marsha como Ulyanna. O filme foi exibido no Festival de San Sebastian, na 43ª Mostra Internacional de Cinema de SP e poderá ser visto agora no Festival Volta ao Mundo: Suíça. Confira!

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