5.5.21

O último a rir

O último a rir || Disponível dia 6 de maio no Petra Belas Artes À La Carte
Crítica por Helen Nice 

Imagem: Reprodução

O primeiro filme dirigido por Alain Tanner, considerado o mais importante cineasta suíço depois de Jean-Luc Godard, entra na programação do Festival Volta ao Mundo: Suíça na Plataforma do Petra Belas Artes à la carte. Em sua primeira parceria internacional, o evento online que acontece entre os dias 06 e 19 de maio. Esta será sua oportunidade de ver filmes raros e inéditos, como o aclamado Charles mort ou vif - O último a rir. O clássico, considerado uma obra de arte, deve ser visto levando-se em conta o panorama sócio político cultural do final dos anos 1960, início dos anos 1970, com sua abordagem inquisitiva. 

Na história, Charles Dé é o proprietário e diretor chefe de uma relojoaria famosa em Genebra. Uma empresa familiar, construída com grande esforço por seu avô. Passada como herança de geração em geração até chegar às suas mãos e, em breve, será o legado de seu filho Pierre Dé (André Schmidt), um executivo metódico e focado nos negócios. Durante os festejos pelos 100 anos da empresa, enquanto um funcionário exemplar lê um discurso exaltando os predicados do líder, o Sr Dé tem um choque de realidade e, numa crise de ansiedade, abandona o local. O filho o segue, preocupado com a repercussão do ato na mídia. A tv espera por uma entrevista e o filho vê a oportunidade de publicidade e aumento nos lucros. Após consultar a filha boa vida Marianne (Maya Simon), o Sr Dé aceita dar a tal entrevista. 

Imagem: Reprodução

O melancólico Sr Dé começa a refletir sobre seu papel na família e na administração da empresa. Respondendo as perguntas do entrevistador com frases desconexas, ele admite que seu avô era um relojoeiro, seu filho já se mostra um verdadeiro homem de negócios, enquanto ele... Bem, ele foi levado pelas circunstâncias, se tornou empresário por falta de opção e passou a vida apático e sem grandes objetivos. A partir deste insight sobre a própria existência, o Sr Dé resolve dar um basta. Destrói seus óculos, um ato simbólico sobre não mais ver o mundo sobre a ótica dos outros, muda de nome e foge de casa, como se ainda fosse um adolescente influenciado pelo movimento hippie em voga na época. A princípio vai para um hotel e logo conhece, ao acaso em um bar, um casal boêmio e descolado, a quem dá uma carona. 

Entram em cena Adeline (Marie-Claire Dufou) e seu companheiro Paul (Marcel Robert). Uma sequência de fatos bizarros acontece. O casal decide escalar um monte de cascalho, Paul empurra o carro no abismo. Possivelmente esse fatos simbolizem a quebra de paradigmas e a fuga da rotina da vida burguesa. O ex empresário passa a viver com o casal. Passa o tempo cozinhando, fazendo pequenos reparos, ajudando Paul com as pinturas, já que ele sobrevive de trabalhos autônomos, tomando vinho e tendo várias discussões filosóficas, entremeadas com frases de auto ajuda. A narrativa se torna bem lenta neste ponto. Apenas a filha do Sr Dé é informada do paradeiro do pai e parece aceitar com naturalidade sua fuga. Juntos os quatro inconsequentes aproveitam o lado livre e leve da vida, sem compromisso, com a falsa impressão de felicidade. Mas o filho não se conforma com a situação e contrata um detetive para localizar o pai. 

O filme é um imenso grito de alerta sobre a massificação, a crise de identidade e as cobranças profissionais típicas da época. Nos anos 1970 isso fazia total sentido. E hoje também faz. A tentativa de ruptura com os padrões impostos pela sociedade e família sempre será um assunto atual. A fotografia em branco e preto torna tudo mais dramático. A trilha sonora também é muito peculiar. O final é tremendamente trágico e realista. Não é tão simples romper com tradições e normas vigentes. A vida cobra seu preço!

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