17.2.21

Nona: Se me molham, eu os queimo

Nona: Se me molham, eu os queimo || Estreia dia 18 de fevereiro de 2021 
Crítica por Helen Nice

Imagem cedida pela Sinny Assessoria

Este drama experimental híbrido da cineasta chilena Camila José Donoso mistura realidade e ficção, de tal forma que não fica bem definida a tênue linha que divide as duas formas. O filme se baseia na vida de uma senhora real, Josefina Ramiréz, avó da cineasta que viveu no período da ditadura de Pinochet. A excêntrica Josefina além de ser a inspiração da cineasta, também atua como Nona. A inspiração da vida real e o panorama político da época se funde com a ficção de uma trama curiosamente inventada de estranhos atentados incendiários. Um relato ficcional das tendências políticas, desnudando um regime e as vidas dos sobreviventes deste período. 

O filme é bem construído, mas poderia ter sido um curta metragem. A narrativa é demasiado longa e lenta. Da cena inicial, onde a Nona faz uma espécie de tutorial de confecção de um coquetel molotov, o crime passional contra seu ex-amante e a fuga para a pequena cidade costeira, misturam-se takes em primeiro plano da Nona dando depoimentos de sua vida e imagens de vídeos caseiros de baixa resolução. De acordo com a própria cineasta, o projeto que inicialmente não tinha roteiro ou orçamento foi se construindo em filmagens na própria residência da Nona. Ainda assim, o longa não é um documentário. Temos ficção com alguns pontos de vida real. 

Imagem cedida pela Sinny Assessoria

Nona nasceu do desejo da diretora de falar sobre sua avó e também sobre toda uma geração marcada pelas lutas ocorridas no País. Na trama, incêndios suspeitos ocorrem e as investigações policiais não chegam a um consenso, fazendo com que a população local crie várias especulações sobre os fatos. O curioso é que apenas a casa da Nona permanece intacta. Com uma proposta estética diferenciada, o roteiro mostra a ambivalência de caráter da senhora. De personalidade forte e rebelde, as cenas com a Nona se destacam muito mais que a trama da história. O olhar de Nona se destaca em cenas de close dos olhos e o fato de ter feito uma cirurgia de catarata simboliza sua fragilidade também. 

Este é um daqueles filmes que eu me questiono: é muito profundo e eu não consegui atingir o cerne da história e por isso não fui conquistada? Me envolvi muito mais nas cenas de vida da Nona que nos fatos incendiários. Interessante a cena que ela tranca a casa e como segurança coloca o fogão na porta. Como se aquilo pudesse impedir o fogo de atingir sua casa também. O filme foi selecionado para o Festival Internacional de Cinema de Rotterdam. No elenco temos ainda: Paula Yermén Dinamarca, Eduardo Moscovis, Gigi Reyes entre outros. A coprodução Brasil-Chile chega aos cinemas em 18 de fevereiro.
 

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