Berlin Alexanderplatz || Estreou dia 18 de fevereiro de 2021
Crítica por Helen Nice
Imagem cedida pela A2 Filmes
Se anteriormente a história se passava nos anos 1920, aqui ela aborda uma questão bem atual e de suma importância - a crise dos refugiados e a questão da sobrevivência e busca por melhores condições de vida.
O que fazer quando se está em um País que não é o seu, sem documentos, sem permissão legal de trabalho, vivendo em condições subumanas? Estas pessoas caminham entre nós, porém são invisíveis.
O sofrimento humano é descortinado em todas as suas facetas, com cenas fortes e impactantes. O mundo globalizado nos aproxima e ao mesmo tempo nos afasta, fazendo com que este sofrimento seja algo corriqueiro e imperceptível.
Imagem cedida pela A2 Filmes
Francis é um sobrevivente, como tantos outros. Ele gostaria de ser chamado de "recém chegado", "imigrante" ou qualquer outro nome, menos de "refugiado". Mas este estigma o persegue!
Tudo começa com um barco de refugiados no Mar Mediterrâneo. Um naufrágio e Francis luta para sobreviver enquanto vê a morte rondando as águas sombrias. Quando ele volta a si está em uma praia no sul da Europa.
Esta será apenas a primeira das muitas vezes que ele verá a morte de perto.
Francis "queria ser decente, mas a vida não se agradou disto."
O rapaz tentou trabalhar legalmente em Berlim, mas não foi bem sucedido. O caminho que lhe restou foi aliar-se a Reinhold (Albrecht Schuch) e se embrenhar em um ninho de serpentes, traficando drogas no parque Hasenheld. As cenas do parque, bem como as imagens aéreas são impressionantes.
Reinhold, um neurótico, psicopata, viciado em sexo, dependente, dá guarita a Francis, mas o arrasta para o fundo do poço onde habita. Uma amizade destruidora.
Devemos destacar a atuação de Schuch que rouba a cena em muitos momentos. Caracterização, expressão facial e corporal perfeitas dão veracidade a este personagem problemático e traumatizado.
Reinhold deve obediência ao chefão dono do ponto, Puns (Joachin Król), que age com frieza. Francis é rebatizado. Agora ele é Franz e se sente poderoso.
Francis conhece Eva (Annabelle Mandeng) que lhe mostra uma luz no fim do túnel e uma saída honesta para a miséria. Ela o alerta sobre o caminho perigoso que ele está traçando e se oferece para ajudá-lo. Porém, Francis mais uma vez opta pelas companhias erradas e paga caro por isso.
Este capítulo em especial carrega uma carga emotiva surpreendente. A atuação de Welket Bungué dá ao personagem uma profundidade extremamente realista. Impossível não se emocionar. Prepare os lencinhos!
Imagem cedida pela A2 Filmes
Destroçado, o rapaz conhece a prostituta Mieze (Jella Haase) por quem se apaixona. Mieze é quem narra a história.
Franz agora carrega em seu curriculum as alcunhas de - contrabandista de humanos, trabalhador negro, traficante, ladrão e cafetão. Sobrevive em uma cidade que suga o que havia de humano nele, na tênue linha entre o certo e errado.
Um ponto que peca nesta atualização da obra é como as mulheres são retratadas, sempre como prostitutas ou objetos de prazer masculino. Talvez nos anos 20 estas seriam as únicas maneiras da mulher conseguir sobreviver sem a presença masculina para sustentá-las, mas isto não é mais uma verdade única. Quando Mieze diz - eu posso parar de me prostituir e tentar um trabalho como secretária, mas ganharei menos - soa como se não houvesse outras alternativas. Uma visão bem deturpada, de desprezo e desdém pela figura feminina.
Mieze foi aquela que mais o conheceu e entendeu. Percebeu suas duas personalidades, a que podia ser amada e aquela que dançava com a morte. A jovem pagou o preço.
Com filmagens nas cidades de Berlim, Stuttgart, Colônia e Cidade do Cabo na África do Sul, o filme tem uma fotografia forte e pungente.
A trilha sonora alterna momentos de suavidade com acordes estridentes delineando uma realidade alterada pelas drogas.
Eu poderia ficar mais 3 horas falando sobre este filme emocionante e poderoso, mas prefiro convidá-los a embarcar nesta jornada.
Você não sairá o mesmo ao final dela!
"Tudo que ele queria era ser bom!"
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