A Felicidade das Pequenas Coisas || Estreia dia 27 de janeiro de 2022
Crítica por Helen Nice
Imagem cedida pela Sinny Assessoria
Ugyen Dorgi (Sherab Dorji), um jovem de 20 e poucos anos, vive com sua avó (Tsheri Zom) em Timbu, capital do Butão, uma cidade desenvolvida com aproximadamente 80.000 habitantes, a 2.334 m de altitude. Leva uma vida considerada bem sucedida por trabalhar como professor para o governo. Avó e amigos comentam sobre a sorte de ter este tipo de trabalho.
Mas o jovem sonha em conseguir o visto, mudar-se para a Austrália e tentar a vida como músico. Um típico jovem consumista sonhando com o sucesso.
Insatisfeito com a profissão, ele procura sua supervisora para abrir mão das aulas. Entretanto, ao contrário do que planejava, Ugyen é transferido por um curto período e terá que assumir as aulas no vilarejo remoto de Lunana.
O roteiro de Pawo Choyning Dorji, que também assina a direção, pode parecer sem originalidade à princípio, porém a forma como se desenrola o torna bem especial.
O rapaz da cidade grande terá que se adaptar à vida simples e nada fácil de uma vila rural à 4800 m de altitude nas montanhas do majestoso Himalaia, com uma população de apenas 56 habitantes.
A jornada deste jovem professor, acostumado com as facilidades da cidade, será impactante. E ele parte com sua bagagem teórica do que é ser um bom professor, trajando seu belo casaco North Face e botas à prova d'água, segundo a vendedora. Mas terá que se moldar à uma realidade totalmente distinta.
Imagem cedida pela Sinny Assessoria
Após um longo percurso em um ônibus precário, ele chega à Gasa onde é recebido por Michen (Ugyen Norbu Lhendup) que será seu guia nos 8 dias de caminhada. O solícito companheiro, enviado por Asha Gup Jinpa (Kunzang Wangdi), chefe da aldeia, informa que já providenciou até papel higiênico, pois soube que "o povo da cidade não faz as necessidades sem isto."
Um luxo para agradar o ilustre professor.
Seguem viagem , até atingirem Koina, onde vivem apenas 3 pessoas em condições inimagináveis para um jovem da cidade.
Primeiro choque de realidade.
O percurso é belo e desafiador, a subida íngreme exige esforço a habilidade. As paisagens são um deleite para os olhos. A natureza hostil e exuberante das montanhas.
O jovem com seus fones de ouvido, simplesmente ignora tudo ao seu redor, fazendo pouco inclusive dos rituais de respeito aos protetores de Karchung La Pass. Os locais acreditam que se deve mostrar respeito a fim de ter uma viagem segura e desejar voltar algum dia. O lugar é deslumbrante!
Muitos quilômetros mais e finalmente avistam o chefe da aldeia e toda população que aguarda com respeito e homenagens.
Aquele povo simples deposita no professor todas as esperanças de que as crianças sejam mais que pastores de iaques (animais herbívoros de pelagem longa encontrados no Himalaia) ou coletores no futuro.
Imagem cedida pela Sinny Assessoria
As crianças estão ansiosas pela chegada do professor. Primeira lição de vida de Ugyen.
Aquele lugarejo sem energia elétrica, onde o banheiro é um buraco no chão e o assento sanitário é usado como brinquedo, onde papel é artigo de luxo, onde o aquecimento é feito com estrume animal e um yaque é visto como uma conexão cármica, pois garante a sobrevivência, irá transformar a vida do professor. A sala de aula é apenas um espaço empoeirado sem as mínimas condições de trabalho.
Mais que ensinar, ele irá aprender.
A garotinha Pem Zam (Pem Zam) e a jovem Saldon (Keldon Lhamo Gurung) tocarão fundo nas emoções.
A trilha sonora, com belas canções folclóricas, traz letras repletas de significado. Cantar é um ato de felicidade que deve ser ofertado a todos os seres, aos animais, aos deuses e a todos os espíritos do vale.
O filme é tão rico em imagens, mensagens e reflexões que dispensa muitos comentários. Seria até difícil traduzir em palavras algo que é pura emoção.
Paisagens incríveis em uma história doce e cativante, que certamente levará o expectador às lágrimas.
"A Felicidade das Pequenas Coisas" fala de sonhos, de colocar a felicidade tão distante que não se percebe quando ela bate à porta, de amizade e gentileza, sobre acolhimento, crenças e respeito à natureza, do verdadeiro significado de lar e pertencimento a uma cultura.
Butão é considerado o lugar mais feliz do mundo e certamente este filme transmite um pouco desta felicidade.
Um deleite assistir!!
Professor deve ser tratado respeitosamente, pois toca o futuro!
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