Deserto Particular || Já nos cinemas
Crítica por Helen Nice
Imagem cedida pela Sinny Assessoria
"Deserto Particular" é o filme escolhido pela Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil, almejando uma vaga no Oscar 2022 na categoria de Melhor Filme Internacional. A produção é o quarto trabalho do diretor Aly Muritiba, que também assina o roteiro juntamente com Henrique dos Santos. A película, estreou na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e também recebeu o Prêmio Del Pubblico BNL 2021 em Veneza.
O elenco é composto por: Antonio Saboia (Daniel), Pedro Fasanaro (Robson/Sara), Laila Garin (irmã de Daniel), Thomas Aquino (Fernando), Cynthia Senek, Luthero Almeida, Otávio Linhares, Sandro Guerra, Zezita Matos.
Na trama, o ator conhecido pelo trabalho em Bacurau, Antonio Saboia, encarna o policial Daniel Moreira, que aos 40 anos de idade enfrenta uma crise na profissão e na vida.
Daniel está afastado do Batalhão e sob investigação militar por agressão, aguardando julgamento.
Vamos conhecê-lo, primeiramente, como um filho dedicado e amoroso, que cuida pacientemente do pai idoso. O pai, que também foi militar, está bastante debilitado, com dificuldade de locomoção e déficit de memória.
A responsabilidade deveria ser dividida com a irmã, que gostaria de colocar o pai em uma instituição onde teria cuidados especializados. Daniel não aceita.
Imagem cedida pela Sinny Assessoria
Quando a irmã reclama e diz que, em breve irá se mudar para viver com uma namorada, Daniel se mostra incomodado, revelando um comportamento tradicional e preconceituoso, resultado de sua criação.
A repercussão negativa de seu incidente o abalou psicologicamente. Sem dinheiro, o rapaz precisa arrumar trabalho, mas as portas se fecham. Só lhe resta fazer trabalhos temporários como segurança à noite em boates, deixando o pai com a irmã.
Daniel mantém um relacionamento à distância com Sara, a quem conheceu em um site de relacionamentos. Eles nunca se encontraram, só se falam virtualmente. Mas, subitamente, Sara parou de responder.
Emocionalmente abalado, sem perspectivas e intrigado com o sumiço de Sara, Daniel abandona o pai e cede ao impulso de atravessar o país de carro e encontrar seu amor.
Aqui começa realmente o filme!!
Após horas de estrada, onde a paisagem vai ficando cada vez mais árida, Daniel chega à uma realidade totalmente diferente da sua no Rio de Janeiro. O filme revela as muitas faces de um mesmo Brasil.
Imagem cedida pela Sinny Assessoria
Ninguém parece conhecer Sara em um local tão pequeno. Daniel espalha cartazes com o rosto da moça.
Mas aqui Sara é Robson, que mora com a avó e leva uma vida dupla, escondendo quem realmente é. O meio, extremamente preconceituoso e intolerante, não aceita quem não segue o padrão estipulado.
Robson carrega as lembranças de um pai que a expulsou de casa, logo após a morte da mãe, enviando-a para viver com a avó que teria a missão de "dar jeito" e curar o rapaz.
A cidade, simples e parada no tempo, é regida por dogmas religiosos que discriminam e condenam tudo que é diferente dos seus conceitos arcaicos. Felicidade e Salvação não andam juntos, pregam eles. Sara luta com suas dores, tentando superar tanto desamor, e se esconde de Daniel, temendo quebrar o encanto e ser rejeitada por ele.
O encontro, facilitado por Fernando, amigo de Sara, será intenso e profundo.
Daniel terá que enfrentar sua criação machista e tradicional e encarar os fantasmas interiores que o fizeram acreditar, sem pensar ou sentir. É preciso deixar de se enganar, se quiser assumir seu amor por Sara.
O filme é um road movie de emoções, autoconhecimento e aceitação. Aborda um tema atual e necessário, demonstrando que nosso cinema acredita em mudanças estruturais e no poder transformador dos sentimentos.
A fotografia belíssima, mostra em imagens, dois universos distintos de um mesmo Brasil.
A simbologia do lago de Sobradinho, calmo na superfície, ocultando tantas histórias, dores e amores. As imagens áridas, com pedras duras como alguns sentimentos, denotando toda solidão interior. As rodovias e as possibilidades de partir para outras vidas.
Com delicadeza e sensibilidade, Deserto Particular faz refletir sobre os papéis tradicionais nas relações afetivas, perpetuados por uma educação machista e paternalista. A infelicidade causada a partir destes condicionamentos e a dificuldade de se quebrar paradigmas e aceitar as diversas formas de Amor.
😉 Estamos na torcida pelo filme!!
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