O Homem que Vendeu sua Pele || Estreia dia 07 de outubro de 2021
Crítica por Helen Nice
Imagem cedida pela Sinny Assessoria
Chega às salas de cinemas nesta quinta-feira (07) o filme indicado pela Tunísia ao 93º Oscar de Melhor Longa Metragem Internacional - O homem que vendeu sua pele. A produção originária da Tunísia, França e Bélgica, tem direção de Kaouther Ben Hania, que ao visitar o Museu do Louvre, em Paris, em 2012 presenciou uma retrospectiva do artista belga Win Deloye. A obra intitulada Tim de Deloye apresentava um homem de dorso nu, sentado em uma poltrona, exibindo o desenho que o artista tatuou em suas costas. A peça de arte foi vendida em um leilão para um colecionador de arte alemão em 2008. Tim Steiner é obrigado, por contrato, a permanecer um certo tempo exposto em galerias e museus pelo mundo.
O filme, com roteiro da própria Kaouther Ben Hanis, é livremente inspirado nesta polêmica obra de arte.
A trama se inicia na Síria em 2011 e temos o jovem e apaixonado Sam Ali (Yahya Mahayni) e sua namorada Abeer (Dea Liane). O amor entre os dois não é do conhecimento da família da garota, que já tem um outro pretendente em vista, o bem sucedido Ziad (Saad Lostan) que ocupa o cargo de embaixador da Síria na Bélgica.
A triste saga de Sam começa quando ele demonstra publicamente seus sentimentos em um trem lotado. O rapaz faz uma escolha infeliz de palavras e, como o país está no início de um período político conturbado, Sam é denunciado e preso.
Ajudado por parentes, ele consegue fugir para o Líbano e se torna um refugiado sírio, trabalhando em um subemprego, sem direitos e proibido de ir ao encontro de sua amada que está na Bélgica.
Vivemos em uma era sombria que, se você é sírio, afegão, palestino, etc, você é uma persona non grata. Os muros sobem!
Imagem cedida pela Sinny Assessoria
Sam tem pouco contato com familiares na Síria via internet e presencia as mudanças no regime.
O pobre refugiado entra sorrateiramente em vernissages de luxo para conseguir algum alimento.
Em um destes eventos, seu destino se cruza com o artista plástico Jeffrey Godefroy (Koen De Bouw) e sua assistente Soraya Waldy (Monica Bellucci). O artista, que tem uma postura polêmica em suas obras, faz uma proposta excêntrica ao refugiado.
A princípio, a proposta soa como um tapete mágico que o levará ao encontro de sua amada. Sam teria suas costas tatuada pelo artista e seria exibido em várias partes do mundo. Em troca, receberia uma fortuna em euros e o cobiçado visto Schengen, que permitiria que ele cruzasse as fronteiras da Europa sem problemas.
Na ânsia por encontrar seu amor, Sam não vê o outro lado da moeda e abre mão de sua liberdade, se tornando um objeto de arte que pode ser manipulado e explorado por seu criador. A necessidade o fez abrir mão de sua identidade e fazer algo insano pensando apenas em si próprio. Mas ao ver sua mãe (Darina Al Joundi) em uma conversa por vídeo, um fato o choca e ele percebe como esteve fechado em si mesmo e alheio à realidade, submetendo-se a um mundo que não é o seu, solitário e infeliz, apesar de todo luxo dos hotéis 5 estrelas e do tão almejado visto. Entretanto, Sam percebe que sua prisão só mudou de perspectiva.
Sam é transformado em uma mercadoria, uma tela que pode correr o mundo. Nos tempos que vivemos, a circulação de mercadorias é mais livre que a circulação de seres humanos.
Imagem cedida pela Sinny Assessoria
O filme aborda muito bem, de maneira sarcástica, o valor relativo do ser humano, a mercantilização da vida e a exploração da mão de obra dos refugiados, ignorados pelo sistema em suas necessidades e direitos básicos.
Ironicamente, a arte que iria servir para denunciar essa exploração se torna parte da mesma.
Os atores estão muito bem nos papéis, entregando atuações potentes. Yahya faz uma par perfeito com Dea, que também expõe a falta de liberdade das mulheres para decidir sobre suas vidas e amores, em uma sociedade que ainda impõe casamentos por interesse.
A trilha sonora mescla música clássica com sucessos típicos da cultura síria. Há imagens de forte impacto sensorial, como a própria tatuagem, a cena da espinha ou os porcos tatuados. Os longos corredores vazios dos museus dão uma nítida sensação de abandono e desesperança.
O desfecho da trama traz uma reviravolta inesperada e fictícia que lhe caiu muito bem.
Curiosidade: o artista Win DeLoye faz uma pequena aparição na película.
Definitivamente, um filme que vale ser assistido!
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