Entre Irmãos

Entre Irmãos || Disponível no Cinema Virtual 

Crítica por Helen Nice 

Imagem cedida pelo Cinema Virtual

Drama/comédia turca de 2018, com roteiro e direção de Tolga Karaçelik. Tem no elenco Tolga Tekin (Cemal), Tugce Altug (Suzan) e Bartu Kuçukçaglayan (Kenan). Teve sua estreia no Festival de Cinema de Sundance 2018, onde venceu a Competição World Dramatic. 

Cemal é astronauta em treinamento, aguardando pelo momento que realmente será lançado ao espaço. Como o governo não libera verba para o programa espacial, ele e seus companheiros iniciam uma greve. Kenan é ator com grande futuro, mas se submete a fazer pequenas dublagens sem visibilidade para sobreviver. Tem um relacionamento superficial, que já dura alguns anos, mas nunca contou detalhes de sua vida para a garota. Suzan é professora e enfrenta uma crise no seu relacionamento. Embora tenha tentado se separar, seu marido vive imerso em seu próprio mundo e não lhe dá ouvidos. 

Imagem cedida pelo Cinema Virtual

Três pessoas distintas, com vidas completamente separadas. Nada os une, a não ser o fato de serem irmãos biológicos. A mãe cometeu suicídio quando eles eram pequenos e o pai os mandou embora da pequena aldeia de Hasanlar, para serem criados por parentes distintos. Trinta anos se passaram sem contato com o pai e com poucos telefonemas entre eles. Sem intimidades ou convivência. Até que Cemal recebe uma inusitada ligação do pai pedindo que junte os irmãos e lhe façam uma visita. Ele hesita, à princípio, mas decide fazer a vontade do pai. 

Temos, antes de mais nada, a reunião de uma família disfuncional, que terá que aparar as arestas psicológicas e encarar a longa viagem de carro até um local distante, do qual eles nem tem qualquer tipo de recordação ou afeto, para encontrar um pai desconhecido. As poucas lembranças giram em torno de um conto sobre borboletas, que a mãe contava antes da hora de dormir. No vilarejo, os três se deparam com pessoas lunáticas, como o confuso dono da vila e sua esposa ou o Imam (guia espiritual muçulmano) em crise, que questiona sua fé nos momentos mais estranhos. Situações absurdas acontecem, revelando um senso de humor excêntrico e peculiar, com galinhas que explodem e outros absurdos! 

Imagem cedida pelo Cinema Virtual

Entretanto, o ponto crucial acontece quando os irmãos são informados que o pai está morto, aguardando pelos familiares para ser sepultado. Apesar de não terem sido criados como uma família, agora eles terão que desenvolver uma relação de amizade fraterna e concluir os desejos que o pai deixou em uma carta. As situações de comédia são como uma válvula de escape para disfarçar profundas dores emocionais. Acontece uma catarse coletiva, expondo arrependimentos, culpas, tristezas, solidão e dores à muito guardadas no inconsciente. A aridez da paisagem, à muito sem chuvas, reflete o distanciamento dos três irmãos e a falta de conexão com aquele pai distante. 

O filme apresenta um tema pesado e algumas piadas agridoces. Mas se torna terno e comovente, ao analisarmos os laços afetivos entre os três irmãos e o senso de família que eles não tiveram a oportunidade de vivenciar. É uma "D.R." espetacular e criativa, que consegue envolver o público. Sempre embalada por canções turcas. E um final no mínimo hilário. Vale a diversão.