Na Cidade Branca || Disponível dia 6 de maio no Petra Belas Artes À La Carte
Crítica por Helen Nice
Imagem: Reprodução
Na Cidade Branca é uma grande análise da personalidade do marinheiro suíço Paul (Bruno Ganz) que, num surto intempestivo abandona o navio na cidade de Lisboa. A capital portuguesa é conhecida pelos locais como a cidade branca devido a cor de suas construções.
Sem qualquer plano de vida, sai caminhando pelas ruelas e entra em um pequeno bar para tomar uma cerveja. Quem o atende é a bela portuguesa Rosa (Teresa Madruga) com quem troca algumas palavras em francês. O bar é também uma pensão no bairro simples dos arredores do porto. Paul decide, por impulso, alugar um pequeno quarto, com a típica pia em um dos cantos.
Com uma pequena câmera 8mm em punho, Paul sai a esmo fazendo imagens das ruas e vielas, das escadarias, fachadas desgastadas, pessoas, pequenos animais e os tradicionais varais nas janelas, com roupas esvoaçantes.
Imagem: Reprodução
A brancura da cidade serve de pano de fundo para as reflexões pessoais de Paul. Sons e silêncios, solidão e amargura se misturam às imagens que se acumulam em pequenos cartuchos. A trilha sonora composta por jazz e canções locais completa o tom melancólico.
Paul deixou uma mulher a sua espera na terra natal. Não sabemos ao certo se Elisa (Julia Vonderlinn) é sua namorada ou esposa.
Ele lhe envia os vídeos e cartas falando de amor e vazio existencial. Ela responde friamente, demonstrando um amor sem emoção ou grandes expectativas.
Perdido em seus sentimentos, sem perspectiva de um futuro próximo, passa os dias e noites vagando, bebendo e fumando. Ocorre uma aproximação natural com Rosa e logo se tornam amantes.
Paul detalha em suas cartas as aventuras e romance com a portuguesa da pensão, dizendo amar duas mulheres. Alguém o definiu como um "axolote", espécie que não se desenvolve, permanecendo em estado de larva na fase adulta. E ele é exatamente assim, um garoto imaturo, perdido, fugindo das responsabilidades da vida adulta.
Imagem: Reprodução
As cartas ferem os sentimentos de Elisa, que apesar de tudo ainda lhe responde e aguarda seu retorno.
É nítido o contraste da fotografia de linhas retas e sóbrias, esteticamente perfeita da terra natal e a desordem arquitetônica da terra desconhecida. Dois mundos distintos.
É de se justificar o encanto do marinheiro pela terra distante. A falta de compromisso, dia e noite já não se distinguem, jogo, bebidas e as tristes canções em sua gaita. Ironicamente o relógio do bar tem os números ao contrário, como se o tempo pudesse voltar atrás.
O filme descreve o vazio existencial a que todos nós estamos sujeitos. Seguir com um trabalho monótono e sem perspectiva, voltar para casa e viver o dia a dia sem cor e sabor ou jogar tudo para o alto e viver dias insanos, regados a álcool e sexo, em uma terra desconhecida. O vazio tem muitas maneiras de se manifestar.
Sem um roteiro definido, o filme segue ao sabor das ondas. Como a vida!
Confira. Certamente não passará despercebido.
"Nada existe realmente para mim. Sou um mentiroso tentando dizer a verdade."
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