Glória à Rainha || Disponível aqui
Crítica por Helen Nice
Imagem: Reprodução
Se você assistiu a série de ficção "O Gambito da Rainha" (eu ainda não vi - shame on me!), certamente vai se interessar por este documentário que estará na lista de longa-metragens internacionais em competição na 26ª edição do Festival É Tudo Verdade, que estará disponível on-line e gratuito de 08 a 18 de abril.
Esta co-produção austríaca-georgiana-sérvia faz uma homenagem às quatro grandes Mestres do Xadrez da Georgia - Nona Gaprindashvili, Nana Alenxandria, Maia Chiburdanidze e Nana Ioseliani.
Um grande encontro destas mulheres que se tornaram ícones de uma época, mostrando as conquistas destes símbolos soviéticos da emancipação feminina.
Mesmo durante a Guerra Fria, essas quatro enxadristas revolucionaram o xadrez feminino no mundo todo.
Não estranhe o fato das mulheres terem o mesmo nome - Nona e duas Nana. Era costume as famílias serem "induzidas" pelo partido a nomearem as meninas recém nascidas com o nome das campeãs. O documentário intercala depoimentos de várias mulheres de diversas classes, idades, profissões que tiveram seus nomes determinados pelo partido e até mesmo pela maternidade, como forma de homenagem.
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Glória à Rainha, cujo título se refere à única peça feminina do jogo, dirigido por Tatia Skhirtladze, com roteiro de Ina Ivanleanu e da própria Tatia, começa apresentando a vida de Nona Gaprindashvili, jogadora de xadrez da Geórgia que foi Campeã Mundial Feminina 5 vezes, enfrentando inclusive, fortes oponentes masculinos, um feito notável para a época. Nona foi a primeira mulher a levar o xadrez feminino ao nível masculino, vencendo vários torneios masculinos.
Nascida no pequeno vilarejo de Zugdidi em 1941, foi incentivada desde cedo pela família a praticar várias atividades e esportes, destacando- se no xadrez, que aprendeu com o irmão.
De personalidade extremamente competitiva, desde a juventude Nona já integrava a equipe da cidade, onde teve seu talento revelado.
A família se mudou para Tbilisi, onde a jovem pode frequentar uma escola de xadrez e aprimorar seu dom nato. Ela frisa no documentário que é necessário ter talento para jogar, mas também é necessário desenvolver este dom e ter bons nervos para competir.
Em 1956 ela venceu pela primeira vez.
Com apenas 21 anos, Nona venceu o Campeonato Mundial em Moscou e foi ovacionada em todo trajeto de volta para casa. A partir daí, tornou- se um exemplo e um incentivo, levando a Geórgia a ser um celeiro de grandes jogadoras.
É tradição local dar um jogo de xadrez à noiva como parte do dote, o que incentiva os descendentes a aprenderem a jogar.
Ela faz algumas divagações se questionando sobre a dificuldade de se equilibrar uma carreira de sucesso com uma vida familiar feliz, já que a pressão psicológica é extrema. Para relaxar ela diz praticar outros tipos de esportes e atividades recreativas.
Imagem: Reprodução
Gaprindashvili perdeu seu título em 1978 para uma adversária conterrânea, Maia Chiburdanidze, de apenas 17 anos. Quando ela venceu, a maternidade local anunciou que todas as meninas recém nascidas deveriam chamar Maia.
O roteiro explora a biografia entrecruzada das quatro mulheres, revisita seu legado e lança um olhar raro à vida que levam hoje. Intercalando belas imagens de arquivo, filmagens oficiais da época e propaganda utilizada pelo partido mostrando essas mulheres como exemplo a ser seguido. Materiais raros de arquivos expandem a narrativa, revelando um lado inesperado da propaganda soviética.
Chegando aos nossos dias temos imagens do Campeonato Europeu de Xadrez Sênior de 2019.
Nona foi a precursora, e enquanto as outras senhoras já pararam de competir, ela ainda cheia de energia com seus 80 anos, continua a competir nos torneios seniores.
Hoje, apesar das diferenças, se tornaram amigas desfrutando as alegrias que o esporte proporcionou em suas vidas.
Jogar xadrez mantém você com a mente aberta e determinada, faz pensar logicamente e ajuda a tomar as decisões certas, afirmam.
Cada partida de xadrez é como a vida. Há um planejamento, desenvolvimento das peças, combinações exatas. Se tiver sucesso foi graças aos seus esforços!
"Não se pode contar sua própria história".
T.S. Eliot
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