Drunk - Mais uma Rodada || Estreias dia 25 de março de 2021
Crítica por Helen Nice
O que é a juventude? Um sonho.
O que é o amor? O conteúdo do sonho.
Soren Kierkegaard
Imagem cedida pela Sinny Assessoria
Drunk - Mais uma Rodada, a co-produção Dinamarca, Suíça, Holanda, do diretor Thomas Vinterberg, indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Direção, surpreende por sua profundidade. Em uma mistura bem dosada de drama, comédia e tragédia, não só retrata a cultura do álcool nos países nórdicos (ou em qualquer parte do mundo) como também faz uma análise do comportamento humano.
Beber, nestes países, é parte da rotina, até porque o clima frio, os longos meses de inverno rígido, o isolamento são agravantes da depressão e, consequentemente um incentivo ao maior consumo.
A Dinamarca tem uma posição bem flexível em relação ao álcool. A idade legal para comprar é 16 anos e o consumo entre os jovens é bastante alto.
Porém o roteiro de Tomas Lindholm e do próprio Vinterberg não tem uma visão moralista, e sim, faz uma análise sobre moderação e auto controle e descreve com primazia a tênue linha que separa o consumo dito "social" da dependência química grave.
As primeiras cenas mostram jovens bebendo de forma inconsequente em uma gincana em uma parque. Algo que, a princípio pode parecer inofensivo, denota um perigo eminente. Pode ser a ignição para a dependência futura. Veremos isso mais tarde quando o professor questiona o quanto esses mesmos jovens consomem de álcool em uma semana. As respostas são alarmantes.
Imagem cedida pela Sinny Assessoria
Mas o ponto central do filme fica a cargo dos quatro amigos. Todos professores na mesma instituição, demonstram nítidos problemas psicológicos, crise pessoal, desmotivação profissional, tédio. A famosa crise da meia idade.
Pensar que a juventude ficou no passado com todas as oportunidades e agora só resta uma vidinha monótona e sem esperança pode ser assustador. Na ânsia por ter de volta o vigor e a plenitude da juventude, os quatro embarcam em uma jornada repleta de riscos.
O excelente Mads Mikkelsen dá vida a Martin, que a princípio nem bebe. Uma noite os quatro se unem para comemorar os 40 anos de Nikolj (Magnus Millang) que reclama da rotina com 3 filhos pequenos. Peter (Lars Ranthe), professor de música com sua vida sem graça e os ensaios do coral e Tommy (Thomas Bo Larsen), o solitário professor de Educação Física, que nem sabe nadar, também percebem o quanto Martin está angustiado. A fotografia é excelente e os detalhes de cenário merecem destaque.
Com o pretexto de escrever um artigo de psicologia, os amigos decidem testar as teorias do filósofo e psiquiatra Finn Skarderug que diz que nascemos com um déficit de 0,05% de álcool no sangue.
Imagem cedida pela Sinny Assessoria
Sendo assim, se essa quantia for consumida diariamente, a pessoa se sentirá mais relaxada, mais determinada, mais corajosa, mais musical e aberta, com mais empolgação e auto confiança. A solução perfeita para toda aquela sensação de depressão e sofrimento que havia em suas vidas.
Os quatro determinam que irão consumir a tal quantia que será monitorada por bafômetro, com o objetivo de coletar evidências dos efeitos motores, verbais e psicorretóricos. Eles querem perceber o aumento do desempenho social e profissional, só não é permitido beber depois das 20:00 e nos fins de semana.
O filme é dividido em partes. A princípio a ideia funciona. A sensação de poder e de domínio das situações é nítida. As aulas ficam mais animadas, ativas e interessantes, a convivência familiar flui e tudo vai aparentemente bem.
Se alguns drinques funcionam, porque não aumentar a dose?
Na segunda parte da história, vem aquela velha desculpa - não somos alcoólatras, podemos parar quando quisermos. Eles decidem utilizar um nível individual para atingir um melhor desempenho profissional e pessoal.
Aqui somos bombardeados com imagens de políticos e personalidades famosas visivelmente alcoolizados. As cenas são muito bem colocadas em uma direção impecável.
Imagem cedida pela Sinny Assessoria
A partir da terceira e última parte, a vida se torna uma total ruína. É o fundo do poço.
Peter chega a incentivar um aluno a consumir álcool antes de um exame, uma postura inaceitável para um professor.
Cenas deprimentes, violência doméstica, caos total e a decisão de parar o "estudo".
Mas aí cada um deles já transformou a bebida em uma muleta para os bons e maus momentos. É a procura pela poção mágica que vai trazer de volta o amor, a esperança, a disposição sexual, enfim, a juventude desperdiçada. Beber para se manter vivo, apesar de todas as consequências trágicas.
A trilha sonora descreve bem cada mudança de humor do grupo. Muito boa!
A cena final é tremendamente impactante, um dos melhores momentos do filme. A esposa Anika (Maria Bonnevie) desponta como uma possível luz no fim do túnel.
Viver é dançar na corda bamba. É tentar se equilibrar na linha sutil que divide o consumo moderado da dependência.
Será possível?
Drunk - Mais uma Rodada entra em cartaz nesta quinta (25) nas praças que mantiverem os cinemas em funcionamento. Será disponibilizado a partir de 16 de abril em streaming nas plataformas: NOW, VivoPlay, SkyPlay, iTunes/AppleTV, GooglePlay e YouTube.
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