As Vidas de Glória || Disponível nas plataformas digitais
Crítica por Helen Nice
Imagem cedida pela Sony Home
Chegando às plataformas digitais a cinebiografia "The Glorias", escrita e dirigida por Julie Taymer, que divide o roteiro com Sarah Ruhl, adaptado da autobiografia "My life on the road" de Gloria Steinem.
Com um formato narrativo bem interessante, The Glorias traz informações sobre a vida da ativista pioneira na luta pelos direitos femininos.
O elenco de peso, a bela fotografia e a trilha sonora envolvente compõem um relato fascinante, que nos faz mergulhar na vida das várias Glórias que habitam este ícone que marcou uma época e gravou seu nome com destaque na história do movimento feminista e teve seu ápice nos anos 1960 e 1970.
Uma personalidade tão complexa mostrada por quatro excelente atrizes. As várias fases de uma mesma mulher, brilhantemente expostas. Temos Lulu Wilson e Ryan Kiera Armstrong como a perspicaz Glória mais jovem. Alicia Vikander e Julianne Moore interpretam as Glórias adultas.
A pequena Glória cresceu imersa em dois mundos distintos que formaram sua personalidade. Enquanto sua mãe Ruth (Enid Grahan) lhe dava bases contidas, por ela própria enfrentar a instabilidade emocional na carreira e casamento, seu pai Leo (Timothy Hutton) incentivava seu espírito livre e criativo. Inspiradora a cena dos dois dançando na chuva!
Um pai nada convencional com uma vida itinerante e instável, mas com conselhos marcantes. Na juventude, Glória abre mão do casamento e opta por estudar fora, apoiada por seu pai.
Os anos na Índia e a filosofia de Gandhi lhe deram uma visão mais ampla do papel da mulher na sociedade e a função da maternidade. Para ela optar por levar uma gestação adiante seria direito de escolhe de cada mulher. Ser mãe seria uma opção, não uma sina. Mais uma vez as cenas "on the road" levam à reflexão.
Imagem cedida pela Sony Home
O filme é muito feliz ao colocar constantemente as "várias Glórias" dialogando. Não seria incrível se pudéssemos conversar com nós mesmas em várias idades e absorver as vivências, conhecimentos, resgatar a inocência ou alcançar a maturidade?
As viagens de ônibus e as múltiplas personalidades contracenando ou observando a paisagem, a vida passando, o carro do pai, são recursos bem criativos e reflexivos.
A vida de Glória e seus trabalhos como jornalista e levaram cada vez mais a se envolver na luta pelos direitos das mulheres. Discriminação e assédio eram comuns, mas sua personalidade forte e determinada não aceitava ser vista como objeto pelos homens e ela deixava isto bem explícito.
Os anos 1970 fervilhavam em movimentos e lutas contra a desigualdade e surge a oportunidade de criar uma revista focada em elucidar as mulheres sobre seus direitos e liderar uma possível mudança. Assim nasceu Ms Magazine e levou Glória a ter contato com outras ativistas como Dorthy Pitman Hughes (Janelle Monae), Flo Kennedy (Lorraine Toussaint), Wilma Mankiller (Kimberly Guerrero) e Bela Abzug (Bette Midler). Aliás, Bette Midler dá um show à parte.
Glória foi ousada para sua época, seu trabalho incansável, inclusive vencendo seu medo de falar em público, mudou uma geração, enfrentando o sexismo e a sociedade patriarcal. Ainda há muito caminho a ser trilhado, mas com certeza, Glória deu a guinada inicial neste sentido.
Meu único senão sobre a narrativa é que em alguns momentos o roteiro se torna um pouco lento, tornando o filme longo demais, o que pode cansar o expectador. Mas o roteiro compensa ao usar imagens de época dos movimentos organizados, como a Marcha de Washington e a Conferência Nacional de Mulheres em 1077. Há também ótimas referências a outros filmes e livros utilizando-se de belas metáforas.
Uma homenagem merecida. Um reconhecimento a esta mulher, jornalista, ativista, escritora, palestrante, hoje na casa dos 80 anos. Um filme extremamente relevante.
Um final comovente!
Viajar é a melhor educação, a única educação.
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