Pai || Estreia em breve
Crítica por Helen Nice
Imagem: Divulgação
Neste primeiro ato impulsivo já temos uma prévia do caráter deste homem que não mede esforços pela família, apesar de infrutíferos. Caberá a ele juntar os pedaços desta família destruída pelo sistema.
De um lado teremos este pai humilde e obstinado e do outro o oficial de justiça, Vasiljevic (Boris Isakovic) que manda crianças adotivas para famílias adotantes de parentes e amigos em sua própria aldeia. Cada família recebe 40 mil dinares dos quais 30% vai para seus bolsos. Todos sabem que mais de 30 crianças já foram mandadas ilegalmente, porém tem medo de denunciar.
Decidido a lutar para ter seus filhos de volta, este homem não mede esforços e faz uma jornada à pé de 300 km entre seu vilarejo e Belgrado para entregar um documento ao ministério e provar que se importa com sua família. Mas a exploração pelo sistema e a pobreza faz com que este homem nem tenha conhecimento de seus direitos e não tenha voz para exigi-los.
Uma verdadeira odisseia como dos antigos heróis.
Imagem: Divulgação
Escrito e dirigido por Srdan Golubovic, este drama encanta pela objetividade e simplicidade, não apelando para o sentimentalismo excessivo.
Goran está excelente no papel do pai, um homem calado que mostra nos traços cansados, nas vestes humildes, nos ombros arqueados e pés calejados, a vida sofrida que leva e a determinação em manter seu único bem de valor, sua família.
O caminho é difícil, as leis, as intempéries, as adversidades de um local sem estrutura alguma vão se sucedendo. Mas nada o faz desistir.
A cena com o cão é de arrancar lágrimas e mostra o quanto ele preza a vida.
O filme descreve um regime de poder, onde o ser humano não é respeitado e ao se sentir impotente, este pai usa faz o que pode para lutar. Seu ato atrai a atenção de pequenos jornais locais e da tv, mas ainda assim não dá a ele voz suficiente para sair do anonimato.
É uma luta solitária e não importa se será bem sucedida ou não, o amor pelos filhos lhe dá forças. A cena do reencontro com os filhos é emocionante.
Pelo caminho, Nikola encontra atos de solidariedade como o rapaz do caminhão que lhe fala de fé e esperança. Por outro lado, também cruza com opiniões contrárias, como o companheiro do hospital que lhe diz que não vale a pena lutar pela família pois ela o abandonará no final.
As duas faces de um povo sofrido. Este pai representa um País marcado por lutas e incertezas.
A Sérvia, antes parte da Iugoslávia, se esfacelou pelas lutas separatistas e resultou em um regime sem bases sólidas, onde a burocracia e o poder do Estado geram corrupção e falta de estrutura básica para o povo. A incerteza quanto ao futuro, a falta de trabalho com remuneração digna, a escassez de governantes que defendam o povo e não pensem apenas em benefício próprio é a realidade atual.
Um retrato contundente. Uma luta comovente. E a esperança e incerteza como ponto final!
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