As veias do mundo || Estreia em breve
Crítica por Helen Nice
Imagem: Divulgação
Amra Erdene (Bat-Irredui Batmunkh) vive com seus pais e irmãzinha em uma tenda típica das tribos nômades nas planícies da Mongólia. Sobrevivem da criação de carneiros e cabras e da produção de queijos artesanais, que são vendidos no mercado local.
Ele tem uma vida típica de um garoto de 11 anos. Frequenta a escola do vilarejo, e por ser distante, seu pai Erdene (Yalalt Namsrai) o leva de carro todos os dias. As imagens abertas do carro nas estradas mostram um imenso espaço imponente e árido e as montanhas.
Além dos estudos, Amra e seus amigos assistem clips de música no celular de um deles e o garoto sonha em poder cantar e ser famoso. Mas de volta à sua casa a realidade é outra e ele precisa ajudar as mulheres no pastoreio e afazeres diários.
Quando a escola recebe a notícia que iriam participar de uma seletiva do Mongolian's Got Talent, Amra vê sua chance de realizar seu grande sonho. Ele só precisa convencer seu pai a assinar a autorização. Ele até já escolheu a música com a qual tomará parte - Golden Veins, uma canção típica que aprendeu com seu pai.
O garoto aguarda ansiosamente por essa assinatura, mas seu pai sempre posterga, pois está preocupado em convencer a comunidade a se unir contra as companhias estrangeiras de mineração que estão tomando conta de toda região.
Se dependesse da mãe Zaya (Enerel Tumen), eles já teriam aceitado a indenização pelas terras, antes que não sobrasse mais nada, e iriam viver em outro local, como muitas famílias já estavam fazendo.
Imagem: Divulgação
Quando finalmente Amra consegue a autorização para cantar e faz sua primeira audição uma tragédia acontece e muda radicalmente os planos dele e da família, destruindo seu sonho infantil. Amra precisa crescer precocemente e se tornar o homem da família, com a incumbência de vender os queijos e prover o sustento da casa.
A tarefa não é fácil e Amra, revoltado e se sentindo culpado, se une aos garimpeiros ilegais para conseguir dinheiro, sem se preocupar com as consequências.
Toda essa história é contada pela ótica infantil, de alguém que sofre um trauma e perde sua inocência. Amra assume as lutas do pai fazendo o que for preciso para não abandonar as terras de seus ancestrais.
O filme apresenta uma questão muito séria nas comunidades da Mongólia. A exploração do ouro e as pressões que as tribos sofrem por parte das grandes mineradoras que os expulsam das terras de seus povos, modificam os cursos dos rios, quando não os secam totalmente, destruindo a natureza e causando grande devastação.
A cultura não é respeitada, nem as tradições, como a árvore de orações com os tecidos pendurados, que para eles é um local sagrado.
O filme mostra as belas paisagens da Mongólia e a destruição causada pela exploração desmedida, o tradicional em contraste com o avanço do chamado progresso.
Ao final, a letra da canção de Amra é um lamento triste e real. As veias sangrando e esvaindo a natureza e a cultura de um povo.
Uma denúncia em forma de canção.
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