Amy Harmon é uma autora que eu gosto muito, tanto que já li todos os quatro livros dela lançados aqui no Brasil pela Verus Editora. Lá embaixo eu deixei o link para todas as resenhas, menos Simplesmente Blue que ainda não fiz o texto, mas farei em breve. Essa autora escreve romances jovens que pela sinopse você pode julgar simples, só que sempre tem alguma reflexão, algo interessante, um casal diferente dos padrões e uma escrita gostosa. Infelizmente a editora já lançou todos os livros da autora que comprou e não anunciou a compra de mais nenhum. Correndo Descalça é o último lançado e fala da amizade entre Josie Jensen e Samuel Yates. Os dois vivem numa pequena cidade dos Estados Unidos e acabam dividindo o banco do ônibus escolar. Entrando na fase adulta, Samuel se sente dividido pois é metade americano e metade indígena, da etnia navajo.
Josie é uma jovem que tem talento para a música e com a morte da mãe assumiu os afazeres da casa. É ela que cuida do pai e irmãos e dela própria. A amizade com Samuel traz uma nova perspectiva para vida dela que só se resumia a música e a família. Ela lê com ele, ensina sobre compositores de música clássica, o ajuda a entrar nos Fuzileiros Navais, que é o grande proposito dele. Pelo Samuel a Josie vai sentir aquele amor inocente e quando isso se intensifica, ele vai embora. Quem narra o livro é a Josie e para quem fica é sempre complicado, então o relato dela é melancólico porque ela vai perder a mãe, o Samuel, outros personagens importantes. Sabe vida real? O livro segue por essa linha.
Era tudo novo e maravilhoso, e a atenção dele me mantinha num estado de euforia constante, algo que era novo para mim.
Com tanta perda a autora utiliza elementos religiosos e espirituais para guiar a narrativa. Sendo uma parte navajo e tentando se encaixar como mestiço, a autora nos contar várias lendas desse povo. E num primeiro momento, o Samuel pode parecer muito arredio, mas é só um menino tentando encontrar um lugar para começar do zero, sem o peso de precisar ser uma coisa ou outra, porque no final as duas partes fazem quem ele é. O Samuel vai para os Fuzileiros porque lá não existe raça, apenas o homem defendendo o seu país. A religiosidade vem dos questionamentos das coisas que acontecem na vida de ambos. Por ser uma cidade pequena, eles são criados na igreja, a Josie toca todos os domingos, e têm reflexões sobre partes da Bíblia. A autora fez isso tão amarrado, tão parte de quem eles são que não me incomodou, embora eu não leia romances cristãos. Não acho que o livro e encaixe nessa categoria, mas ele tem sim a religião como característica.
Antes de ler Correndo Descalça, eu me deparei com comentários sobre ele romantizar a pedofilia, pois quando a Josie conhece o Samuel, ela tem 13 anos e ele 18. A diferença entre eles é de 5 anos. Isso me deixou um pouco com o pé atrás, mas como gosto da autora e tenho os outros livros dela, li. Gente, na minha opinião não tem nada disso. Quando os dois se conhecem é apenas amizade. Eles passam um tempo juntos e a Josie ajuda o Samuel na escola, a passar nas matérias. Ela começa a gostar dele, aquele encantamento no começo da pré-adolescência, mas não tem nenhum tipo de contato físico.
Eu me sentia um traste, dezenove anos e escrevendo cartas para uma menina de catorze. Eu sabia que não podia ser bom. Você precisava crescer, e eu também. Tinha coisas que eu precisava fazer, e fiz. Achei que talvez fosse hora de voltar.
O Samuel é muito responsável, com um ótimo caráter e mesmo percebendo que ela tem interesse nele, não dá espaço para nada que saia da amizade. Tanto que as coisas só acontecem entre eles quando ele está com 28 anos e ela 23. Então ele, principalmente ele, espera todos esses anos para viver algo com ela. Sempre que o Samuel percebe que está sentindo algo a mais por Josie ele se afasta, ele explica para ela que não é certo eles ficarem juntos, é sincero e respeitoso. Então para mim a autora não romantiza nada, ela faz com eles passem um tempo separados, vivam suas vidas, e só depois se reencontrem.
Eu gostei muito de Correndo Descalça, assim como os outros da Amy. Não só o crescimento dos personagens me pegaram como também ele citar tantos livros, inclusive as minhas queridas Brontës. A Josie e o Samuel discutem O morro dos ventos uivantes e o personagem Heathcliff, assim como Jane Eyre. Fora as discussões sobre Shakespeare e Jane Austen. É um livro melancólico como disso, mas muito bonito e o final é redondo. Nesse caso o caminho que o casal percorreu é de aprendizado e reflexão e o fim só fechou isso, então a autora não se alonga nesse assunto. Continuo recomendando a Amy de olhos fechados. Sempre são livros que têm algo por baixo da superfície.
O ser humano não foi feito para ficar sozinho. O Criador nos deu pele macia e sensível, que anseia pelo calor de outra pele. Os braços querem abraçar. As mãos querem tocar. Somos atraídos por companhia e afeto por causa de uma necessidade inata.
Correndo Descalça
Amy Harmon
Verus
Resenha dos outros livros da autora:
Onde comprar (links comissionados):
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