Amores Rebeldes || Disponível no Cinema Virtual
Crítica por Helen Nice
"Há uma fenda em tudo. É assim que a luz entra".
(Leonard Cohen)
Imagem cedida pelo Cinema Virtual
Fendas são pequenas rachaduras por onde a luz pode passar, por onde podemos ver imperfeições, constatar defeitos, que podem ser corrigidos ou não. Por onde é possível perceber o que ainda pode ser reparado ou o que se quebrou para sempre.
No ser humano, são situações de confronto que permitem o crescimento. A adolescência é um destes momentos.
Vencedor do prêmio de Melhor Roteiro no Max Ophüls Festival 2020, o drama austríaco Amores Rebeldes (Lovecut) chega nesta quinta (02) ao Cinema Virtual.
Com direção e roteiro das estreantes Iliana Estanol e Johanna Lietha, o drama traça um panorama dos conflitos de identidade e desafios típicos da adolescência, agora exacerbados pelo mundo digital, repleto de informações e em constante mudança.
Embora o universo juvenil tenha se ampliado, as dúvidas sobre amor, sexualidade, regras sociais e conflitos familiares continuam os mesmos. Os desejos de independência, as barreiras financeiras e as normas sociais ainda assombram essa fase tão instável e desconhecida.
Na trama temos três casais, jovens de nacionalidades diferentes, que vivem em Viena e são interpretados por atores iniciantes, o que dá um ar de veracidade às cenas.
Imagem cedida pelo Cinema Virtual
Anna (Sara Toth) tem apenas 16 anos e vive um relacionamento tórrido com Jakob (Keren Abdelhamed) alguns anos mais velho. O celular registra cenas que deveriam ser íntimas e são postadas sem censura nas redes sociais. A ilusão pelo dinheiro fácil os faz entrar no perigoso mercado sexual virtual. Anna vê aí uma possibilidade de deixar a casa dos pais e suas regras e cobranças.
Jakob tem um meio irmão, Alex (Valentin Gruber), que se tornou cadeirante em decorrência de um acidente. Ele mantém um romance virtual com a jovem russa Momo (Melissa Irowa). O sexo virtual esconde a verdade e o rapaz enfrenta a dúvida de tornar seu relacionamento real e a garota, que sonha em perder sua virgindade, não aceitar sua condição.
Ben (Maximilian Kuess) já mora sozinho e está prestes a completar 18 anos. Faz arriscados roubos de motos para garantir seu sustento, mas a liberdade condicional o coloca em uma situação perigosa. O oficial de condicional se esforça para orientá-lo a seguir um bom caminho, sem sucesso. O rapaz conhece Luka (Luca Von Schrader), amiga de Momo, em um site de relacionamento.
Luka enfrenta uma grave crise de identidade, rebelando-se contra a autoridade dos pais, e não quer assumir um relacionamento sério por não crer no amor verdadeiro.
As três histórias se aproximam e se distanciam de maneira natural e fluída, revelando as crises e conflitos típicos desta faixa etária. Amor, paixão, sexo em tempos virtuais. A constante busca por uma identidade social. A segunda metade do filme assume um ar mais sério com a intervenção dos personagens adultos.
"Amores Rebeldes" aborda a realidade conflituosa que os jovens enfrentam desde sempre, porém agora, com a exposição às mídias sociais, ao mundo virtual das imagens perfeitas e vida de aparências.
Adolescentes conectados constantemente a internet, sem intimidade. Tudo precisa ser exposto e validado pelo grupo.
A crise de identidade, que sempre existiu, agora depende também de "likes" e aprovação virtual.
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