A Pequena Guerreira || Disponível no Cinema Virtual
Crítica por Helen Nice
Imagem cedida pelo Cinema Virtual
A diretora da etnia Mohawk, Tracey Penelope Takahentakwa Deer, que também assina o roteiro juntamente com Meredith Vuchnich, traz seu filme de estreia - "A Pequena Guerreira" (Beans) - um drama baseado em eventos reais. No elenco temos: Kiawentiio Tarbell (Beans), Rainbow Dickenson (Lily), Joel Montgrand (Kania'Tariio), Violah Beauvaix (Ruby), Paulina Alexis (April), D'Pharaoh McKay Won-a-Tai (Hank), entre outros. Tracey Deer, que presenciou o impasse entre seu povo e o governo no verão de 90, soube naquele momento que queria se tornar cineasta e contar sua história ao mundo. "As feridas do passado ainda me assombram. Este filme é a maneira de recuperar meu valor, honrar meu povo e celebrar nossa resistência." disse a diretora.
Na história somos apresentados à Takahentakwa, uma garotinha de apenas 12 anos, com olhos doces e curiosos. Seu apelido peculiar é "Beans", já que seu nome, originário de sua descendência Mowhak, é difícil de pronunciar. Beans está fazendo uma entrevista para concorrer à uma vaga em uma escola bem disputada. Inteligente e despachada, responde com segurança a praticamente todas as perguntas.
Beans vive com a família, sua mãe Lily, no final da gestação do terceiro filho, seu pai Kania e sua irmã mais nova, a falante Ruby, na reserva Mowhak de Kahnawake ao sul de Montreal.
A pressão familiar sobre sua educação é grande. A mãe quer que ela ingresse na escola chic e bem conceituada, já pensando em seu futuro. Já seu pai quer manter a filha em segurança dentro da reserva e preservar seus costumes.
Imagem cedida pelo Cinema Virtual
Entretanto, o mundo de Beans irá sofrer um impacto muito maior, que a obrigará a crescer precocemente, passando da infância à dura fase adulta, deixando para trás sua inocência e ingenuidade, passando a assumir atitudes e posicionamentos que nem ela imaginava possuir.
Entre 11 de julho de 1990 e 26 de setembro de 1990, ocorreu a Crise Oka, também conhecida como Resistência Kanesatake, uma disputa de terras entre a nação Mowhak e a cidade de Oka, Quebec, Canadá. As terras sagradas para os ameríndios, onde se encontra o cemitério da comunidade foram requisitadas para a construção de um campo de golfe. A nação Mowhak moveu ações contra o empreendimento, sem sucesso. Nenhuma revisão ambiental ou de preservação foi realizada.
Entretanto, a decisão foi a favor dos incorporadores para a realização da obra.
A decisão, sem levar em conta a importância do local para os nativos, causou um impasse armado que durou 78 dias. O povo Mowhak foi pintado pela mídia como terroristas, sendo atacados pelos locais. Os direitos básicos foram violados e a polícia que deveria oferecer proteção, permaneceu passiva.
A Ponte de Mercier foi fechada com barricadas, no ponto em que ela passa pelo território indígena, interditando um importante ponto de acesso entre Montreal e os subúrbios, resultando em confrontos violentos entre nativos e os passageiros brancos canadenses, com ataques com pedras, agressões verbais e violência extrema, inclusive cortando o fornecimento de mantimentos para os nativos.
Imagem cedida pelo Cinema Virtual
A crise chegou ao ponto crucial, e o Primeiro Ministro precisou interferir e solicitando a intervenção do exército.
O pai de Beans vai para a frente de confronto. A mãe, mesmo grávida, se expõe ao perigo. As crianças vivenciam tudo e sofrem com a violência.
A doce e gentil garota, antes tímida e com bons modos, se vê obrigada a aprender a ser durona e forte como os jovens de sua etnia. Indignada com as injustiças que seu povo enfrenta, a jovem guerreira enfrenta a situação à sua maneira, tentando defender família, amigos e sua cultura.
A narrativa foca na jornada de Beans, sua história de amadurecimento. É sobre conhecer uma realidade sombria de um mundo preconceituoso e assustador, que a exclui, fere e condena apenas por ser diferente. Sua relação familiar, o amor pela irmãzinha e a amizade com April, mais adulta que ela.
April se torna uma espécie de tutora que ensina Beans a enfrentar as dores do mundo sem derramar lágrimas ingênuas. April protege Beans de uma maneira só dela, pois também enfrenta sua crise pessoal em um lar disfuncional, sofrendo abusos do pai dependente químico. Seu irmão Hank reproduz o comportamento abusivo.
Imagem cedida pelo Cinema Virtual
O filme apresenta imagens fortes e reais de noticiários e arquivos da época, que mostram a violência dos brancos canadenses, demonstrações de racismo e intolerância e a passividade da polícia local.
A atriz canadense Kiawentiio Tarbell (Anne with an E), também nascida na tribo Mowhwk de Akwesasne, entrega uma personagem forte e cativante, que descobre o poder de seu nome e a importância de mostrar com orgulho sua herança cultural. Ela também interpreta a canção "Light at the end" que está na trilha sonora do filme.
Destaque para as atuações femininas. Rainbow Dickerson como uma mãe amorosa, porém firme em suas falas e exemplos na educação das filhas e defesa de suas origens de forma pacífica.
A pequena Violah, impecável no papel e as cenas entre Paulina e Kiawentiio, sempre carregadas de forte carga emocional...
O filme foi selecionado em mais de 15 festivais, entre eles o Festival Internacional de Cinema de Berlin, onde recebeu o Urso de Cristal na Mostra Generation KPlus.
A Pequena Guerreira (Beans) já está disponível no Cinema Virtual. Confira!
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