2.8.21

Rashomon

Rashomon || Disponível no À LA CARTE 
Crítica por Marcelino Nobrega 

Imagem cedida pela Sinny Assessoria

Sangue, violência, sexo, lutas de espadas, aliado a uma estrutura narrativa sofisticada e profunda, o clássico Rashomon do gênio Akira Kurosawa é um assombro, maravilha indiscutível da sétima arte! Que prazer assistir este grande filme de 1950, influenciador de centenas de filmes após ele! Cheio de viradas no roteiro, é aquele tipo de filme que você assiste, se maravilha e fica pensando dias na estória. 

Chovendo muito, três homens do Japão medieval refugiam-se num templo em ruínas e para passar o tempo, começam a conversar sobre um crime bárbaro que aconteceu há alguns dias atrás. Dois dos interlocutores, o monge e o lenhador, foram testemunhas no tribunal e o camponês fica muito curioso em saber das novidades. 

O bandoleiro da floresta Tajomaru, interpretado pelo ator ícone do Kurosawa Toshirô Mifune, estupra a esposa de um samurai e o mata em seguida. A esposa Masako é vivida pela excelente atriz Machiko Kiô e o samurai Takehiro pelo ator Masayuki Mori. Quando o criminoso é capturado e levado ao tribunal para ser julgado, diferentes versões do ocorrido são contadas e a cada uma delas, o roteiro dá uma reviravolta. Esta estrutura narrativa que rapidamente muda seu ponto de vista, passando do bandido para a esposa do samurai e depois para o fantasma do assassinado é uma delícia de se assistir, arrematado no final por outro depoimento revelador, do qual não vou soltar o spoiler. Esse choque entre a verdade e a mentira, entre a perfídia e a crueldade, cria diálogos filosóficos sobre a condição humana entre os abrigados da chuva. Essa é a maravilha desse roteiro magnífico, temos várias camadas de narrativa se superpondo e isso gera um filme ousado e inovador, que não envelheceu nada de 1950 para cá. 

Imagem cedida pela Sinny Assessoria

O trabalho dos atores principais é incrível! Toshirô Mifune, Machiko Kiô e Masayuki Mori, a cada versão narrada, mudam a caracterização de seu personagem e essa metamorfose acaba refletindo a realidade, onde nunca somos sempre os mesmos. O trabalho físico das interpretações impressiona, a maneira como o gestual compõe o personagem e reflete as alterações. Um dos prazeres de se assistir essa película é observar essas mudanças e verificar a composição tão sofisticada dos personagens. 

O trabalho de fotografia, como em todos os filmes do diretor, é belíssimo. Em preto e branco, cada cena aproveita os contrastes da floresta e do templo, criando uma filigrana de luzes e sombras magnífica. Nunca vi uma floresta tão bem fotografada em um filme! O cenário é um outro personagem na narrativa, e seus contrastes de luminosidade são explorados à perfeição. Presente no catálogo do Streaming Petra Belas Artes, é um clássico imperdível, tão inovador e surpreendente agora como há 71 anos atrás. Assistam e depois comentem o que acharam! Altamente recomendado! Nota: 10/10.

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