Vicenta || Disponível aqui
Crítica por Bárbara Kruczyński
Imagem: Reprodução
O ano de 2020 foi extremamente difícil, a contar pela situação de pandemia que, infelizmente,
ainda vivemos. Porém, há de se falar das guerras que foram travadas há muito tempo e que
conseguiram finalmente ter um resultado positivo. Uma delas concerne as mulheres argentinas que venceram uma luta enorme contra o patriarcado e seu machismo enraizado
quando finalmente as autoridades do pais estabeleceram que o aborto seria permitido no país
durante as primeiras 14 semanas de gestação.
Ao passo que a discussão chegou a este ponto tão importante de legalizar um direito humano
e que não convêm ser julgado por qualquer viés ideológico ou religioso, mas sim oferecer
acolhimento a todas que necessitarem usar deste direito, chega ao público mundial um filme
sobre o caso real de Laura, acontecido muitos anos antes da nova lei entrar em vigor em terras
portenhas.
A jovem apresenta deficiência intelectual e é praticamente uma criança, mesmo aos 19 anos.
Mora com sua mãe e passa os dias assistindo tevê. Tudo muda, quando Vicenta, mãe de Laura,
percebe a filha adoentada e a leva ao médico. Este revela que a garota está grávida e o choque
para a mãe é enorme, mas ao fazer algumas ligações, tem a consciência que a menina pode ter
sido abusada por seu tio. A mulher com plena capacidade de raciocínio e sabendo que o caso
se enquadra em um possível aborto legal na época, inicia processo para que a filha o consiga.
Obviamente, os agentes responsáveis e autoridades colocam em voga a questão do abuso, ou
ainda deixam na mesa a opção de adoção – não observando claro todo o sofrimento que a
menina pode passar carregando esta outra criança dentro de si.
Imagem: Reprodução
Mas Vicenta vai à luta. Se
sente totalmente sem forças, pois vê que as burocracias em hospitais são muitas e os agentes
governamentais, aparentemente, colocam empecilhos em todo o processo para que haja uma
reação rápida. Toda a dor que a menina tem de viver vai aumentando ao longo dos dias e quando há, em
tese, uma afirmativa do julgamento para que o procedimento seja realizado, parece ser muito
tarde. O que novamente coloca os médicos e hospitais com receio de agir. Uma frustração que
somos levados a ver e a tomar como nossa, pois as mulheres nestes casos, antes ou depois da
aprovação da lei, não devem passar por tanto descaso por parte dos agentes públicos. Ainda
mais uma garota indefesa e deficiente.
O filme de Dário levou cinco anos para ficar pronto, no entanto, sua animação belíssima de
quase uma hora e trinta minutos é espetacular e contém narração poderosa. Uma produção
que entrega ainda imagens de arquivo jornalístico e que se faz viva em diversos momentos.
Trilha pontuando muito bem os passos do filme e cores escuras para uma fotografia que não
esquece essa dor tão forte que é a do abuso.
Ao fim, temos o conhecimento do que se deu com Laura e sua mãe e há em si alivio e também
um certo gosto de justiça.
O filme recebeu menção honrosa ao fim do Festival ‘’É Tudo Verdade’’.
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