18.4.21

A Última Floresta

A Última Floresta || Disponível aqui 
Crítica por Helen Nice 

Imagem: Reprodução

O documentário "A Última Floresta" chega em um momento crucial da nossa História e, não por acaso, será o filme de encerramento do Festival É Tudo Verdade 2021. O diretor Luiz Bolognesi reuniu em 1h14min. imagens de forte impacto visual e, em uma alternância entre depoimentos e imagens teatralizadas pelos próprios nativos, conseguiu registrar o folclore, as crenças, as denúncias e os lamentos do povo Yanomami da Aldeia Watoriki. Os Yanomami vivem em um território ao norte do Brasil e sul da Venezuela há mais de mil anos. Sendo assim, 500 anos antes da existência desses países, o povo Yanomami já estava lá, o que já deveria lhes garantir o território por direito. Entretanto esse direito à terra pouco ou quase nunca foi respeitado. 

Reunidos em uma enorme cabana circular, com redes de dormir, fogueira e local de confecção dos alimentos e estudos, teremos acesso à rotina e conversas informais, onde eles contam suas crenças e folclore. São histórias simples, que passadas oralmente com riqueza de detalhes, garantem a continuidade das tradições. As belas imagens da floresta mostram crianças brincando nas águas límpidas do rio, onde a única ameaça deveria ser a cobra. Homens indo em busca da caça que os alimenta, usando armas confeccionadas por eles próprios e o único perigo a temer deveria ser a onça, que pode ter levado um deles. Mas o perigo real são os garimpeiros, que quando em pequeno número, ainda podem ser enfrentados. 

Imagem: Reprodução

Em outro ponto da narrativa, temos mulheres indígenas conversando sobre a confecção de cestos e a possibilidade de comércio, o que as tornaria menos dependentes dos homens, demonstrando a força da mulher e do trabalho em equipe. Veremos também os próprios índios encenando a lenda da criação do mundo e dos povos a partir das águas, com uma linguagem poética e mágica. A finalidade é mostrar aos mais jovens as origens de tudo e como o mundo fora dos limites da reserva pode ser tentador e perigoso. 

Os Yanomami se dizem filhos de Omama, todos com o mesmo sangue, os últimos filhos da floresta. Eles receberam a floresta para cuidar e preservar. Uma forte consciência ecológica na forma mais pura e original. Eles tem muito claro que o garimpo é o espírito maligno e que extrair os minérios dos rios desperta a fumaça da doença. Tem como obrigação lutar para que as crianças cresçam saudáveis e para isso não devem aceitar presentes do homem branco. 

Imagem: Reprodução

O filme chega como um alerta e uma denúncia, já que está muito claro que a partir de 2019 com o novo governo um número exorbitante de garimpeiros invadiram o território Yanomami, envenenando os rios e levando Covid-19 para a aldeia. O xamã Davi Kopenawa Yanomami vem recebendo ameaças de morte por denunciar o garimpo ilegal nas terras da reserva. O documentário traz um grito de socorro da floresta. Em vez de cumprir a Constituição, que reconhece oficialmente as terras indígenas, e respeitar o território a as tradições de um povo, protegendo os índios e garantindo que as novas gerações mantenham vivas toda uma cultura, o novo governo incentiva e tenta legalizar a invasão da terras indígenas por garimpeiros e fazendeiros. 

Este documentário manifesto tem como porta voz de seu povo o xamã Davi Kopenawa Yanomami, clamando por justiça, respeito e auxílio conta a ameaça da destruição e extinção de seu povo. Confira o Documentário às 19:00h deste domingo (18) na Plataforma É Tudo Verdade/Looke. 

Espingarda não alimenta, garimpo mata o rio, mercúrio envenena e deixa doente para o resto da vida.

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